Sonhos do Prestes Maia

 

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Quando estive pela primeira vez na ocupação Prestes Maia, durante o ACMSTC* em 2003, foi organizada uma reunião entre artistas, coordenadores do movimento e moradores da ocupação.

Neste momento, o que me chamou a atenção foi que alguns dos moradores falavam sobre seus sonhos, o que me levou a pensar que o ato de ocupar, de lutar pela moradia digna, estava diretamente ligado ao ato de sonhar.

Fiquei intrigada quando, ao me perguntar qual o meu sonho, não consegui achar uma resposta. Estava tão tomada pelo meu cotidiano frenético, me sentindo tão oprimida por uma vida cheia de obrigações (as da sobrevivência), que não me sentia capaz de sonhar.

Fui então tomada por uma vontade de apreender um pouco daqueles sonhos, e fui em busca deles como se de alguma forma eu pudesse encontrar ali os meus próprios sonhos. E assim foi.

Durante uma semana fui à ocupação, percorri escadas e corredores e bati cegamente nas portas que encontrava. As pessoas me recebiam surpresas, desconfiadas, um tanto envergonhadas, mas absolutamente gentis, sempre. Tomei muitos cafés, ouvi muitas histórias e fui tecendo afetos, descobrindo encantada a riqueza que existia ali.

O sentido de união, de força coletiva, de poder de transformação social era tamanho, tal qual o daquele prédio imenso, o formigueiro gigante, a ocupação Prestes Maia.

O processo de realização deste trabalho me tocou de forma muito intensa, me senti tão apaixonada por aquela experiência, que posso dizer hoje que naquele momento minha vida mudou. Eu mudei, porque ali comecei a ter o desejo de sonhar.

O sonho, como aqui se apresenta, é a pura manifestação do desejo. Do desejo do que pensamos nos pode fazer felizes, do que nos pode tornar realizados, plenos, confiantes.

Os moradores do Prestes Maia desejavam muitas coisas, uma casa digna para si e a família, trabalho… Eles sonhavam com o que deveria ser-lhes garantido, sonhavam em ver seus direitos cumpridos.

Eu não precisava sonhar com trabalho e casa (embora de certa forma ainda não tenha ambos), então comecei a desejar a realização dos sonhos deles, porque isto me faria acreditar que transformações são possíveis. E assim foi até o fim da ocupação, em 15 de junho de 2007.

Seguimos sonhando.

 

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Sonhos, com os moradores da ocupação Prestes Maia, do MSTC

*ACMSTC – Arte e Cultura no Movimento Sem-Teto do Centro – Intervenção coletiva organizada por Tulio Tavares e Fabiane Borges

São Paulo, 2003

(clique nas imagens para ampliá-las)

5 Respostas to “Sonhos do Prestes Maia”

  1. Retratos « gira-me Says:

    […] Sonhos do Prestes Maia, trabalho realizado em 2003 com os moradores da ocupação. […]

  2. Álysson Says:

    Parabéns pelo trabalho. Não aguentava mais ver autoridades e especialistas afirmando quais eram as necessidades dos excluídos brasileiros. Você simplesmente perguntou para eles. Sinceramente, fiquei profundamente alterado após a leitura dos relatos. Algo mudou em mim. Vou olhar mais e, também, conversar com os moradores de rua com os quais encontro diariamente me transportando para o trabalho/casa em minha bicicleta ou a pé mesmo (moro em Brasília, se a pessoa mora perto do centro da cidade da até para caminhar até o trabalho/escola/lazer, é que aqui temos calçada – que é um local feito exclusivamente para os pedestres, é incrível essa idéia de calçada para gente andar!).

    Obrigado pelos momentos de reflexão social e contato com os irmãos pobres,

    Álysson Carvalho

  3. fernanda Says:

    excelente.. muito bom!

    Fernanda

  4. Bárbara Évelin Says:

    Ótimo.Estou escrevendo um livro cujo tema é”Sonhos que não podem ser realizados”,e depois dessa leitura concluí que exixtem sonhos tão simples de ser realizados por alguns mas tão longe da realidade de outros.É uma pena ser assim.
    Parabéns pela pesquisa.

  5. mamãe Says:

    oi Mariana,

    sempre me lembro deste projeto “sonhos do prestes maia”
    ele estampou nas portas um vislumbre da alma de seus moradores. Deu voz e imagem a eles. Deu-lhes um lugar, uma identidade indelével pois expressa pelo sonho, pelo desejo.

    Eleusa

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