Homenagens e recordes
Novo cartão-postal da cidade, a ponte estaiada Octavio Frias de Oliveira, batizada em homenagem ao patriarca do jornal Folha de São Paulo, foi inaugurada no último dia 10 de maio em São Paulo, pelo prefeito Gilberto Kassab e o governador José Serra, em cerimônia abençoada pelo padre católico “popstar” Marcelo Rossi.
Os herdeiros da família Frias estiveram presentes para receber a homenagem e agradecer aos governantes por tão merecido reconhecimento, assistidos por autoridades importantes como o deputado federal Paulo Maluf e o secretário municipal das subprefeituras, Angelo Andrea Matarazzo.
José Roberto Marinho representou a família Marinho, das Organizações Globo, cujo patriarca Roberto Marinho já havia sido homenageado, ao emprestar seu nome à avenida que acessa a ponte, “coincidentemente” localizada ao lado da sede paulistana da Rede Globo.
Mas a grande homenageada do dia foi mesmo a indústria automobilística, que no mês de abril atingiu o recorde de vendas de automóveis no Brasil, em toda sua história.
Foi recorde também o congestionamento paulistano na semana da inauguração, atingindo a excelente marca de 266 km de lentidão.
A ponte e a avenida, símbolos do inegável poder da mídia corporativa, são parte do ambicioso projeto de “revitalização” da Zona Sul, chamado Operação Urbana Água Espraiada. No projeto, entende-se como “revitalização” uma seqüência de avenidas, túneis e pontes, ao custo de bilhões ainda incalculáveis de reais.
[André Pasqualini / CicloBR]
Monumento a segregação
Uns tantos homenageados, outros tantos esquecidos: no novo cartão postal da cidade, pedestres e ciclistas estão proibidos de circular.
Mas quem vai pagar mais pela falta de prestígio são as oito mil e quinhentas famílias moradoras de favelas da região, que serão desapropriadas para dar lugar a novas avenidas, túneis e arranha-céus espelhados e, obviamente, para deixar de poluir a paisagem prometida pela especulação imobiliária.
Tudo bem, talvez nem todas paguem. Das 8.500, 1.016 famílias contam com a promessa de conjuntos habitacionais populares, ainda sem previsão de data para o início das obras. Mas as outras 7.484 famílias deverão se contentar com o “cheque-despejo” de 5 ou 8 mil reais e fazer as malas para bem longe.
Essa festa pobre
Não convidados para a comemoração da ponte fria, os que queriam ver pelo que estavam pagando tiveram o atrevimento de fazer sua própria festa sob os olhos brilhantes e famintos do poder.
Ciclistas atravessaram a barreira do consentimento, armando seu piquenique desobediente sobre o asfalto quase fresco.
[Gustavo Escatena / Imagem Paulista]
Uma sexy-pig zombou dos penteados lisos e loiros e das jóias caras, cantando com os amigos:
– Ei xuxu! A ponte é da Daslu!
Alguém sugeriu que se construísse uma pirâmide, onde poderíamos enterrar com orgulho, pompa e circunstância os nossos faraós paulistanos.
[Thiago Benicchio / Apocalipse Motorizado]
Aleluia meu irmão!
Você agora tem o Estilingão!
[Toni / Pedalante]
Fotos:
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pollyrosaRelatos e fotos:
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contraponto e fuga
isaumir nascimento / cmi
o escribaNotícias:
Inauguração da ponte tem protesto por moradia e ciclovias (G1)
Ponte estaiada é inaugurada em clima de campanha (OESP)
Ponte estaiada Octavio Frias de Oliveira é inaugurada em SP (FSP)
matéria sptv (globo)
matéria em vídeo da Folha de SPLeia também nesse blog: O custo de uma ponte estaiada
Tags: Bicicletada
maio 21, 2008 às 6:28 pm |
[…] com fotos: ciclobr contraponto e fuga ecologia urbana gira-me isaumir nascimento / cmi o […]
junho 17, 2008 às 1:10 am |
[…] Leia também nesse blog: Uma ponte estaiada, para poucos e bons. […]
junho 17, 2008 às 11:20 pm |
Isso é uma vergonha para a prefeitura de São Paulo. Já que precisamos
de projetos para a melhora do transito que atinge km’s e km’s !!!
julho 29, 2008 às 7:28 pm |
Dentro de uma perspectiva básica, “A Locomotiva Brasileira”, deveria a priori preocupre-se com a “Educação”, longuiquamente com obras desnecessárias, para “dar” um realce na Cidade. Educação é a cheve de tudo, pois sem ela esse processo de “Alienação/Ostentação” irá continuar.
agosto 19, 2008 às 9:08 pm |
[…] Uma ponte estaiada, para poucos e bons […]
março 20, 2009 às 9:39 pm |
Pontes da destruição rumo a São Paulo sem condição, pedestres marginalizados e nos ciclistas teremos de adaptar asas para sair voando por cima dos carros. A BURROcracia é uma merda quero andar de bike debaixo de chuva ou sol. Não sou profeta mas os proximos alvos de Bin Laden serão as grandes montadoras pra que mais carros, né não?
janeiro 7, 2010 às 5:12 am |
É isso ai, a cidade pensada para os carros, não para as pessoas, já se mostra um modelo furado, no resto do mundo esse modelo tá sendo mudado, e no Brasil ainda insistindo nessa idiotice, como tá no cartaz: rumo a meta 300 km de engarrafamento.